quinta-feira, 25 de março de 2010

Vida de Madrasta

O ser humano pode ser uma caixa cheia de surpresas. Os diferentes sentimentos e sensações, de cada um, é algo inexplicável. Na vida de uma Madrasta acontece a mesma coisa. Tem a mulher que encara na boa os dias de convivência da criança com o pai em sua casa, a bagunça, a birra, os brinquedos pelo chão. E tem a Madrasta que sofre por não ser a primeira a dar um filho para o homem que ama e não suporta ver a enteada, que é a cara da mãe, dentro de sua casa.
Esses sentimentos inadequados são tão sem propósito que deixam até a Madrasta sem saber explicar o porquê de sentir algo tão sem sentido. Para fazer essa Madrasta se sentir melhor, digo que ela não foi a primeira a dar um filho para esse homem, mas ela dará o filho que o pai poderá ver todos os dias ao acordar. A criança pode ser "a cara da mãe", mas pode adquirir os hábitos e ter os costumes semelhantes aos do pai, se tiver a oportunidade de conviver com ele.

Ciúme é um sentimento que não se controla e para conviver com ele, a Madrasta tem que se policiar. Ser racional e lutar contra os pensamentos absurdos que aparecem. Se a criança não sai do colo do pai, basta lembrar como foi sua infância. A madrasta teve um pai presente? Se teve, foi muito bom, guarda boas lembranças e deve desejar essa mesma experiência para os enteados. Se não teve um pai presente, sabe que ficou um vazio, sempre faz falta e que bom que essa criança terá a oportunidade de ter um pai que participa da vida dela.

O pai muda quando a criança chega? A madrasta pode reclamar que o pai só dá atenção para a criança, que não a chama para participar, até muda de voz na hora de conversar com o filho. É comum o pai querer aproveitar ao máximo o curto tempo que passa com os filhos, mas então se não pode vencê-los, deve juntar-se à eles. A madrasta pode se integrar, fazer com que as crianças gostem de sua presença e grudem nela também.

O que faz muita diferença na vida da madrasta, é o comportamento do pai e da mãe da criança. Se o pai percebe que a nova esposa tem dificuldades para aceitar o seu passado, vale a pena deixar bem claro que o que ele viveu já passou, foi bem ruim, por sinal e que a maior alegria da vida dele foi tê-la encontrado. Quanto mais ficar claro para a madrasta que apesar de ter um filho daquela mulher, nada restou além disso, será mais fácil prosseguir. Muitos homens acham que esse sentimento é ridículo, não dão importância, até caçoam de tal fraqueza e passam anos em discussões sem fim sobre esse passado. Cortar o mal pela raiz é o ideal.

O pai não deve ter dó da criança e deixar de educá-la porque a vê tão pouco. Não deve ter medo da ex e aceitar chantagens. Imagine a relação da madrasta com a criança dentro de uma relação movida com esses combustíveis. A criança não tem hora para dormir, decide se quer dormir na estante ou dentro do armário. A criança só vai para a casa do pai SE ele comprar um elefante com corcovas. Se a ex não estiver a fim, não manda a criança e se ele quiser vê-la pode, desde que ao chegar dê três pulinhos em frente ao portão, passe sob o carro que está estacionado na garagem e depois cante uma música sem errar a letra.

Achou os exemplos acima sem sentido? Pois é assim que vive diariamente uma madrasta quando o pai da criança diz que vai colocar a criança para dormir em sua cama porque ele tem medo do escuro e não conhece a casa direito. E quando o pai volta para a casa sem a criança porque a mãe não deixou trazê-la, porque ela está com tosse.

Surgem então as divergências e explico para as madrastas que sim, elas podem e devem palpitar, dizer o que acham que não está adequado, mas quem decide é o pai da criança. O que eu espero é que esse mesmo pai valide dicas de sua nova companheira, pois ele tem o direito de ter vida após a paternidade e ele também manda. Filho não é propriedade da mãe e por existir uma hierarquia óbvia, ele decide onde e quando a criança vai dormir, por exemplo. Por sua vez, a madrasta tem que falar com jeito ao explicar suas ideias ao companheiro. Se gritar, criticar, descabelar, não será ouvida e será simplesmente taxada de ciumenta.

Uma das sequelas da separação é conviver menos com a criança, pois normalmente a guarda é dada à mãe. E não vai dar para compensar os dias, horas, minutos perdidos. O importante é ser um pai presente no período de convivência estipulado, sem alterar a vida de todos. Portanto, a criança pode brincar e passear com o pai durante o dia e dormir às 8:00 da noite, na cama dela, quando estiver na casa do pai. E o pai pode então, tomar seu banho demorado, assistir a um filme ao lado de sua nova esposa, mesmo que seja o final de semana de receber seu filho em sua casa.

A mãe é quem mais tem que se policiar. Será a nova realidade dela dividir a criança com o pai e a madrasta, da mesma maneira que quando ela tiver um namorado o pai terá que agir com boa vontade também. Faz mal para seu próprio filho falar mal de seu pai, afastá-lo dele. Ele pode ter sido o pior marido do mundo, mas é o pai que essa criança tem e ela quer esse pai! Mãe nenhuma tem o direito de falar mal da madrasta e criar um clima infernal. Vamos lembrar que a qualquer momento uma ex-esposa pode tornar-se madrasta e não precisa esperar isso acontecer para se colocar no lugar da nova esposa de seu ex-marido.

E como uma madrasta também pode se tornar uma ex-esposa, vale muito a pena procurar ajuda quando não conseguir enfrentar sozinha os sentimentos malucos que passam pela mente do ser humano ao viver esse papel.

Por isso existe o Fórum das Madrastas. Para acolher pais, enteados, mães e madrastas que vivem essa nova realidade familiar repleta de sentimentos contraditórios. Lá, ninguém se sente sozinho, inseguro ou injustiçado.

sábado, 20 de março de 2010

Caso Nardoni

O ciúme é um sentimento difícil de controlar. Faz todo o sentido desse mundo ter existido o descontrole do casal Nardoni/Jatobá em uma situação problema por causa de mais uma crise de ciúme da madrasta desequilibrada. Sei bem o quanto uma ex-esposa pode incomodar uma madrasta e o quanto a criança pode representar esse passado dentro da casa da madrasta a cada 15 dias.

As madrastas saudáveis, porém, se controlam, têm bom senso e não matam os enteados. Faz 8 anos que acompanho de perto a irritação das madrastas diantes de situações absurdas que vivenciam. Após um desabafo, ao narrar sua história, sentem-se acolhidas e isso basta para controlar um dia de fúria. Será que faltou para a madrasta de Isabella conversar, desabafar e receber ajuda para enfrentar as dificuldades que estava vivendo?

De acordo com estatísticas do IBGE, a cada quatro casamentos, um acaba em separação. Em 1984 foram 30.847 pedidos de divórcio e em 2007 foram 179.342. Existem mais de 60% de famílias reconstituidas e mesmo assim o papel da madrasta ainda é visto com preconceito pela sociedade. O que as pessoas não sabem é que por tras de uma madrasta angustiada pode existir uma ex-esposa magoada que a maltrata e/ou um marido que tem medo da ex e dó da criança gerando então um lar sem regras, sem limites e sem uma rotina organizada.

Um simples momento de descontrole, uma gota d'agua seria capaz de causar o fato narrado pela perícia. Na minha opinião, aquele era mais um dia normal na vida daquela família, o que ocorreu foi uma fatalidade. Perderam o pouco controle emocional que lhes restava, já que era comum viverem em conflito. Inicialmente, não havia a intenção de matar, mas como o pai de Isabella explicaria à mãe de sua filha sobre o machucado ao levá-la de volta para casa? E o que Isabella contaria à mãe?

Fica muito difícil imaginar um pai resolvendo o problema dessa maneira, ainda mais que eles negam o crime, mas uma coisa é certa: a madrasta pode ter perdido o equilíbrio e o pai pode ter acobertado. Ele é fiel à esposa, queria agradá-la, vivia sob a pressão de suas reclamações e a vontade de conviver com a filha. A madrasta perdeu a razão ao se descontrolar e machucar a criança.

E qual a explicação que eu dou para o pai jogar a filha pela janela? Diante de um momento de pressão, ele não soube o que fazer, pois ele não resolvia seus próprios problemas. O avó paterno de Isabella sempre resolveu os problemas do filho. Comprou apartamento para o novo casal, assumiu o pagamento da pensão de Isabella, e pagou as dívidas que o filho criou abrindo e fechando empresa. Por esses fatos narrados pela imprensa, podemos imaginar o modelo familiar em que o pai da menina vivia. Por que dessa vez ele decidiu resolver um problema?

É mesmo uma pena não existir mais nenhum outro suspeito para que pudéssemos acreditar que a nossa família não está tão ameaçada. Mães separadas desconfiam da madrasta de seus filhos e pouco podem fazer para protegê-los, afinal precisam obedecer a determinação de dias de convivência da criança com o pai. As madrastas precisam sorrir e provar que são do bem e dizer que também existem mães más que jogam seus filhos no rio, dentro de um saco de lixo.

O conto de fada virou realidade. E mais uma vez fez uma sociedade inteira regredir e temer o papel da madrasta. Existem madrastas más, babás que batem, mas nem sempre o mordomo é o assassino.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu não sou patriota?

Patriota é aquela pessoa que ama seu país? Que olha para a bandeira e suspira, que se prepara durante dias para escolher seus governantes na hora de uma eleição? Que defende com unhas e dentes as vantagens de morar nesse país tropical? Ultimamente, nada disso me encanta.

Eu tenho, porém um motivo para rever os meus valores. Um filho de 7 anos. Eu quero ser um bom modelo em todos os aspectos de sua educação e não quero passar para ele essa minha imagem negativa sobre patriotismo.

Para chegarmos a uma conclusão sobre gostarmos ou não de alguma coisa, temos que ter parâmetros de comparação. Há 40 anos eu assisto tv, leio livros, acesso a internet, viajo e com esse material sei parte do que acontece em nosso país e em vários outros países.

Há coisas maravilhosas ao redor do mundo, também me assusto com determinadas notícias sobre leis esquisitas, sobre a vida difícil das mulheres e até de hábitos alimentares pra lá de estranhos. E há furacões, tufões, incêndios devastadores, tsunamis.

Dá para chegar então, a conclusão de que nenhum lugar é assim tão perfeito como gostaríamos.

Mas eu sei o que me desanima em meu país a ponto de eu achar que não me importo com ele. É ter essa justiça lenta ou inexistente na maioria das vezes. Normalmente não vemos punição para os bandidos que continuam soltos e matam, roubam mais vezes. Há traficantes de drogas por todos os lados. Bala perdida que mata um pai, uma mãe e ladrões que arrastam uma criança ao roubar um carro.

E a cada dia me deparo com mais injustiças, com falta de aplicação de uma lei. Faz 8 anos que acompanho grupos de pais que lutam para conviver com seus filhos após a separação. Nossa justiça é materna. Até alguns anos atrás, após a separação de um casal, a guarda da criança era automaticamente entregue à mãe. O pai se tornava um provedor finaceiro e nem se esperava muito mais do que isso de seu papel no dia a dia.

Nos dias atuais, o pai quer ser presente na vida de seu filho após a separação, sofre a dor da perda da rotina diária, mas mesmo assim, a guarda integral ainda é dada à mãe.

Existe agora a opção da guarda compartilhada, mas o juiz não a concede se o ex casal não viver em harmonia após a separação. Como compartilharão a guarda se não se entendem? Então a guarda é dada a mãe mais uma vez.

Se vivessem em harmonia, não precisariam de guarda compartilhada, pois a mãe nunca impediria a participação do pai. Ao dar a guarda exclusiva à mãe do mal, ela se vê proprietária da criança e essa arma ela usa contra o ex-cônjuge.

Apesar de isso acontecer em grande escala, de existir mães que somem com seus filhos nos dias de convivência do pai, mães que falam mal do pai para a criança e até aquela que inventa um falso abuso sexual, a guarda ainda é concedida apenas para a mãe.

Se esse pai quiser ter a honra de continuar a ser pai de um filho que ele teve com uma mulher desse tipo, terá que ter um advogado, entrar com liminares, fazer B.O.s e de quebra fazer terapia para manter o equilíbrio durante os meses, os anos de luta para ser pai. E a mãe pode se mudar para onde quiser. Não pode mudar de país sem a autorização do pai, mas pode morar no Chuí, se quiser.

Por que não existe uma quilometragem máxima para o detentor da guarda poder se mudar? Isso é tão óbvio! Ou por que não afastam a criança da mãe também até descobrirem se o abuso sexual é falso ou verdadeiro? Por que não fazem o teste de DNA na maternidade para evitar que a mãe esconda a verdade até de seu próprio filho sobre quem é seu pai?

Aqui explico porque me irrito tanto quando perdem tempo discutindo sobre um projeto de lei para a mudança de um nome de rua, ou algo similar. Que tal se preocuparem com projetos de lei que beneficiem as famílias, as crianças?

Para piorar ainda mais a minha indignação com o assunto paternidade, surge o caso de Sean Goldman, o menino que nasceu nos Estados Unidos e foi trazido pela mãe ao Brasil, sem o consentimento do pai.

Até então eu nunca soube que existia a convenção de Haia e provavelmente a mãe desse menino não sabia também. Mas os advogados e todos os envolvidos nas leis de nosso pais sabiam. Ou seja, as leis do nosso pais existem, são boas, mas não são aplicadas.

E pior ainda foi descobrir que há outras crianças americanas no Brasil nas mesmas condições de Sean Goldman. Ou seja, fugir para o Brasil com o seu filho é uma boa solução para mães ou pais infelizes no casamento.

E pra piorar, David Goldman precisou disputar o filho com uma família de advogados que sempre teve o controle judicial, muita influência. Se o processo não fosse divulgado na internet, pela imprensa, não chegasse ao ponto de prejudicar outros brasileiros que não tinham nada a ver com o assunto, ainda estaria enrolado? Por que precisar disso tudo se o caminho é um só, seguir a lei que já existe?

No Brasil só funciona o que tiver um movimento paralelo particular? Para a saúde, temos o plano de saúde particular, para a educação pagamos escola particular, para a segurança temos o segurança particular nos prédios, casas, na rua.

Os exemplos acima são velhos conhecidos de todos. A novidade agora é que temos que fazer a nossa própria justiça se quisermos que a lei seja aplicada.

São grupos que se unem por uma causa, se fortalecem e conseguem fazer justiça. Os pais que não conseguem conviver com os seus filhos após a separação estão distribuidos no Pailegal, no Participais, na APASE, Pais para sempre, entre outros.

O grupo faz a pressão, conquista o interesse da imprensa que espalha o acontecimento e força a aplicação da lei. Para isso existe um trabalho que pode demorar anos para provar o que é óbvio, mas ninguém vê. A manipulação do detentor da guarda, a alienação parental, a influência da família do mal na política do país que faz mover montanhas para a lei não ser aplicada. E as pessoas falam isso abertamente na tv, fazem passeatas para lutar por uma causa contra a lei! Se vamos infringir a lei, não deveríamos ao menos fazer isso escondido? Onde fica a moral, os bons hábitos, a boa índole, a vergonha?

Não há no Brasil um grupo interessado em devolver as crianças que foram trazidas para cá ilegalmente. Mas existe o Bringseanhome.org que se tornou um grupo de americanos e brasileiros empenhados nesse objetivo, desde a luta para a devolução de Sean Goldman.

No momento, são esses acontecimentos em nosso país que não me deixam ser patriota e amar a nossa camisa.

Só que depois de escrever tantos textos sobre o valor do pai para uma criança, eu descobri que no fundo eu me importo com o meu país, pois me envolvi nesse tema.

Se eu defendo uma causa de mudança em meu país é porque eu o quero bem de alguma maneira. Quando não amamos, não nos importamos. Quem ama cuida, e através do cuidado, da atenção que quero dar para esses pais injustiçados, espero me sentir motivada e passar a valorizar o meu país. E espero que o meu país se esforce para me mostrar que vale a pena eu apostar nele.



Roberta Palermo

Terapeuta Familiar

sábado, 2 de janeiro de 2010

Questão de proteção

Por mais que o Padrasto (madrasta) se sinta lisongeado pela criança gostar tanto dele a ponto de chamá-lo de pai, por questão de proteção, o padrasto (e a madrasta) deve ficar atento e sempre lembrar que, por mais que ame a criança, por mais que seja responsável pelos cuidados e pela parte financeira, essa criança já tem um pai. Mesmo que o pai nunca cobre o seu espaço, a criança vai crescer e pode desvalidar totalmente esse padrasto que ficará arrasado por não ter o reconhecimento de anos de dedicação.

O padrasto de Sean Goldman falou em uma entrevista que se Sean fosse embora ele sofreria, afinal qual pai não sofre quando fica longe de seu filho? Pois eu digo qual pai estava sofrendo: o único que Sean tem, David Goldman. O filho foi tirado de seus braços e outro homem quis assumir esse espaço que não lhe pertencia. Mesmo que o pai tenha morrido, é importante que as lembranças, fotos e histórias sejam mantidas, pois é importante para a criança aprender a lidar com a perda e administrar sua nova realidade.

Após a separação, normalmente a guarda da criança é entregue à mãe e ao se casar novamente, é fato que a criança passa a conviver muito mais com o padrasto do que com o pai. Se a mãe mudar para outra cidade, ficara ainda mais difícil para o pai ser presente na vida desse filho. É importante que mesmo diante dos obstáculos o pai não desista e se organize para conviver o máximo que puder.

É comum o padrasto desfazer do pai da criança por esse ganhar menos dinheiro e até por ser ausente, desvalidando alguém que é tão importante para ela. O padrasto alijador incentiva a criança a torcer para seu time de futebol e não mais para o time do pai. Quer ser o primeiro a levar a criança para assistir a estréia do filme no cinema e corre visitar a Disney! Nesse ponto David Goldman não precisaria se preocupar, pois se dependesse do padrasto de seu filho, nunca mais ele pisaria nos Estados Unidos.

Chega inclusive o dia da criança não querer mais se encontrar com o pai, comprovando a Alienação Parental cometida pelo padrasto, apoiado pela mãe. O que o padrasto não percebe é que a criança é fiel à ele por total falta de opção. A criança não tem maturidade para se libertar dessa opressão e dizer o que realmente gostaria. Ela até poderia manter o vínculo maior com o padrasto, mas nunca queria que ele falasse mal de seu pai, o afastasse dele.

Se indagarem à essa criança se ela gostaria de ir de helicóptero ao Clube de Campo para pescar com o padrasto ou ir à pé comer pastel na feira com o pai, ela adoraria o segundo passeio, mas não poderá assumir sua vontade por questão de sobrevivência. É para a casa do padrasto que a criança voltará depois e não poderá correr o risco de viver em um lar onde ela provocou a desarmonia.

Então a criança fala, escreve e desenha o que o padrasto quer ver e ouvir. Posso então arriscar um palpite do motivo de Sean não ter esperneado ao sair dos braços do padrasto e da avó, por mais que esse fosse o desejo da família materna e o esperado por todos nós pelo drama causado na hora da entrega. Sean não ficou com a responsabilidade da decisão, não era o culpado por ter que ir embora. Ele ficou bem "dos dois lados da fita". Agora ele pode se soltar, viver à vontade ao lado do pai sem dever nada à ninguém. Sempre que o padrasto ligar ele dirá que está morrrrrrendo de saudades e pode até usar uma voz chorosa, pois nunca se sabe, é melhor manter o bom clima. Sim, a criança aprende desde cedo a dançar conforme a música. Seria então um crime forçar esse menino a tomar uma decisão que cabe aos adultos.

A adaptação verdadeira de Sean não será conviver com o pai ou a nova escola e amigos. A novidade será a mudança de clima, de cidade, nova língua e a saudade que terá dos familiares maternos, dos amigos, da rotina anterior. Sentirá saudades de comer pão de queijo, bombom sonho de valsa, jabuticaba, Catupiry, entre outros alimentos que só temos aqui no Brasil. Outra novidade será ajudar o pai nos afazeres da casa, já que no Brasil a maioria das crianças não participa dessa atividade. Tenho certeza de que o meu filho de 7 anos não tem ideia de onde guardamos a vassoura.

Só que essas mudanças não se comparam a melhor coisa desse momento que é receber o amor, os ensinamentos e a participação de seu pai em sua vida, depois desses longos anos de afastamento. Finalmente podemos dormir aliviados, pois sabemos que se alguém fizer algo errado ao outro, a justiça, apesar de lenta ao extremo, acertará tudo no final. Então você, que vive esse problema, nunca desista de lutar para ser pai de seu filho.

Roberta Palermo
Terapeuta Familiar

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Você é o pai

Você pai, que se separou e precisa lutar para manter os dias de convivência com o seu filho, não desista. Veja o bom exemplo de David Goldman e siga adiante.

Ele não aceitou viver sob as chantagens que a ex-esposa e familiares maternos queriam lhe impôr. Ele tinha a razão, então por que ceder? Por que aceitar as migalhas quando se tem o direito de ter uma convivência saudável, de qualidade? Por que aceitar que falem mentiras a seu respeito?

Você pai, que morre de medo da ex, está na hora de mudar. A criança não é propriedade da mãe. Inclusive ela também é responsável financeiramente pelo filho, proporcionalmente a seus rendimentos financeiros.

Se a mãe não estiver em casa quando você for buscar o seu filho, se ela viajar nos seus dias de convivência, entre com um pedido de guarda.

Mesmo que a guarda continue sendo da mãe, mostre que você não vai aceitar que ela atrapalhe essa relação. Você vai denunciá-la todas as vezes que ela violar o combinado realizado diante do juiz.

Para piorar ainda mais, a mãe tem permissão para se mudar e pode ir para 500, 1000 km de distância sem a sua autorização. Como resolver esse problema? Garantindo as férias escolares inteiras da criança com você e os feriados prolongados.

E que tal batalhar por um projeto de lei que estipule uma quilometragem máxima para a mudança de cidade após a separação? Temos que pensar bem antes de termos filhos, pois depois a vida não é mais só nossa.

David Goldman foi corajoso o suficiente para levar até o fim a sua causa. Ele vive em um país que segue as leis, diferente do que acontece aqui no Brasil. Quando ele ia imaginar que para uma lei ser cumprida seriam 5 anos de disputa?

O pai brasileiro se acomoda ou desiste por causa da lerdeza do Poder Judiciário e isso tem que mudar! Vai demorar sim, mas você não vai desanimar. Você está investindo hoje para ser pai do seu filho.

Não sei se ele teria conseguido vencer a batalha sozinho. Então você precisa ter um bom advogado. Peça ajuda, faça um blog, fórum na internet, coloque a boca no mundo, como os amigos de David fizeram.

Você pai, que morre de dó da criança, lembre-se de que, apesar de vê-la apenas em finais de semanas alternados, você tem a obrigação de educá-la. Então na sua casa deve haver regras, limites e rotina.

Não tenha medo de seu filho se assustar por ter que ir buscá-lo com a polícia, se for o caso. E não é a mãe que decide se você vai apresentar ou não a criança para a madrasta.

Por que só você quer poupar a criança, enquanto a mãe está judiando dela ao afastá-la do pai? E o pai que aceita o afastamento está compactuando com a maldade.

O que você vai dizer para o seu filho quando ele crescer? Que a mãe dele sumia com ele nos finais de semana, inclusive ele chorava para não ir para a sua casa?

E enquanto isso onde estava o pai que deveria lutar por ele? Dá muito trabalho, dor de cabeça, úlcera, gastrite, o advogado vai custar caro, mas você vai adiante.

Vai inclusive fazer o exame de DNA se existir alguma dúvida sobre a paternidade. Pois acima de tudo é direito da criança saber quem é o seu pai. Quem sabe ainda conseguimos que esse exame seja realizado na maternidade, junto com o teste do pezinho.

E depois que você conseguir garantir os seus dias de convivência, vai processar a mãe se for cabível nas leis. Mesmo que falem que sabiam que no fundo no fundo você só queria saber de dinheiro.

Se cada pai lesado não deixar pra lá as maldades de uma mãe, quem sabe elas passem a pensar duas vezes antes de acusar o ex-marido de abusar sexualmente da criança, por exemplo.

Por que depois de 2, 3 anos, quando finalmente o pai consegue provar que nada aconteceu, ele deixa pra lá a punição? Por dó da criança? Porque está cansado de batalhas judiciais? Isso é ser egoísta. Há muitos outros pais e filhos que sofrerão a mesma coisa porque as mulheres sabem que não acontecerá nada com elas.

A criança vai sofrer ainda mais? Foi a mãe que causou esse sofrimento e ela continuará a fazer a criança sofrer se ninguém brecá-la.

Os filhos esperam que os pais cuidem deles. Imponham limites, falem “não”. Não querem ter um pai banana que abaixa a cabeça e aceita viver de migalhas.

Você é o pai de seu filho. Assuma a sua posição.

Roberta Palermo
Terapeuta Familiar