sábado, 20 de março de 2010

Caso Nardoni

O ciúme é um sentimento difícil de controlar. Faz todo o sentido desse mundo ter existido o descontrole do casal Nardoni/Jatobá em uma situação problema por causa de mais uma crise de ciúme da madrasta desequilibrada. Sei bem o quanto uma ex-esposa pode incomodar uma madrasta e o quanto a criança pode representar esse passado dentro da casa da madrasta a cada 15 dias.

As madrastas saudáveis, porém, se controlam, têm bom senso e não matam os enteados. Faz 8 anos que acompanho de perto a irritação das madrastas diantes de situações absurdas que vivenciam. Após um desabafo, ao narrar sua história, sentem-se acolhidas e isso basta para controlar um dia de fúria. Será que faltou para a madrasta de Isabella conversar, desabafar e receber ajuda para enfrentar as dificuldades que estava vivendo?

De acordo com estatísticas do IBGE, a cada quatro casamentos, um acaba em separação. Em 1984 foram 30.847 pedidos de divórcio e em 2007 foram 179.342. Existem mais de 60% de famílias reconstituidas e mesmo assim o papel da madrasta ainda é visto com preconceito pela sociedade. O que as pessoas não sabem é que por tras de uma madrasta angustiada pode existir uma ex-esposa magoada que a maltrata e/ou um marido que tem medo da ex e dó da criança gerando então um lar sem regras, sem limites e sem uma rotina organizada.

Um simples momento de descontrole, uma gota d'agua seria capaz de causar o fato narrado pela perícia. Na minha opinião, aquele era mais um dia normal na vida daquela família, o que ocorreu foi uma fatalidade. Perderam o pouco controle emocional que lhes restava, já que era comum viverem em conflito. Inicialmente, não havia a intenção de matar, mas como o pai de Isabella explicaria à mãe de sua filha sobre o machucado ao levá-la de volta para casa? E o que Isabella contaria à mãe?

Fica muito difícil imaginar um pai resolvendo o problema dessa maneira, ainda mais que eles negam o crime, mas uma coisa é certa: a madrasta pode ter perdido o equilíbrio e o pai pode ter acobertado. Ele é fiel à esposa, queria agradá-la, vivia sob a pressão de suas reclamações e a vontade de conviver com a filha. A madrasta perdeu a razão ao se descontrolar e machucar a criança.

E qual a explicação que eu dou para o pai jogar a filha pela janela? Diante de um momento de pressão, ele não soube o que fazer, pois ele não resolvia seus próprios problemas. O avó paterno de Isabella sempre resolveu os problemas do filho. Comprou apartamento para o novo casal, assumiu o pagamento da pensão de Isabella, e pagou as dívidas que o filho criou abrindo e fechando empresa. Por esses fatos narrados pela imprensa, podemos imaginar o modelo familiar em que o pai da menina vivia. Por que dessa vez ele decidiu resolver um problema?

É mesmo uma pena não existir mais nenhum outro suspeito para que pudéssemos acreditar que a nossa família não está tão ameaçada. Mães separadas desconfiam da madrasta de seus filhos e pouco podem fazer para protegê-los, afinal precisam obedecer a determinação de dias de convivência da criança com o pai. As madrastas precisam sorrir e provar que são do bem e dizer que também existem mães más que jogam seus filhos no rio, dentro de um saco de lixo.

O conto de fada virou realidade. E mais uma vez fez uma sociedade inteira regredir e temer o papel da madrasta. Existem madrastas más, babás que batem, mas nem sempre o mordomo é o assassino.