O ser humano pode ser uma caixa cheia de surpresas. Os diferentes sentimentos e sensações, de cada um, é algo inexplicável. Na vida de uma Madrasta acontece a mesma coisa. Tem a mulher que encara na boa os dias de convivência da criança com o pai em sua casa, a bagunça, a birra, os brinquedos pelo chão. E tem a Madrasta que sofre por não ser a primeira a dar um filho para o homem que ama e não suporta ver a enteada, que é a cara da mãe, dentro de sua casa.
Esses sentimentos inadequados são tão sem propósito que deixam até a Madrasta sem saber explicar o porquê de sentir algo tão sem sentido. Para fazer essa Madrasta se sentir melhor, digo que ela não foi a primeira a dar um filho para esse homem, mas ela dará o filho que o pai poderá ver todos os dias ao acordar. A criança pode ser "a cara da mãe", mas pode adquirir os hábitos e ter os costumes semelhantes aos do pai, se tiver a oportunidade de conviver com ele.
Ciúme é um sentimento que não se controla e para conviver com ele, a Madrasta tem que se policiar. Ser racional e lutar contra os pensamentos absurdos que aparecem. Se a criança não sai do colo do pai, basta lembrar como foi sua infância. A madrasta teve um pai presente? Se teve, foi muito bom, guarda boas lembranças e deve desejar essa mesma experiência para os enteados. Se não teve um pai presente, sabe que ficou um vazio, sempre faz falta e que bom que essa criança terá a oportunidade de ter um pai que participa da vida dela.
O pai muda quando a criança chega? A madrasta pode reclamar que o pai só dá atenção para a criança, que não a chama para participar, até muda de voz na hora de conversar com o filho. É comum o pai querer aproveitar ao máximo o curto tempo que passa com os filhos, mas então se não pode vencê-los, deve juntar-se à eles. A madrasta pode se integrar, fazer com que as crianças gostem de sua presença e grudem nela também.
O que faz muita diferença na vida da madrasta, é o comportamento do pai e da mãe da criança. Se o pai percebe que a nova esposa tem dificuldades para aceitar o seu passado, vale a pena deixar bem claro que o que ele viveu já passou, foi bem ruim, por sinal e que a maior alegria da vida dele foi tê-la encontrado. Quanto mais ficar claro para a madrasta que apesar de ter um filho daquela mulher, nada restou além disso, será mais fácil prosseguir. Muitos homens acham que esse sentimento é ridículo, não dão importância, até caçoam de tal fraqueza e passam anos em discussões sem fim sobre esse passado. Cortar o mal pela raiz é o ideal.
O pai não deve ter dó da criança e deixar de educá-la porque a vê tão pouco. Não deve ter medo da ex e aceitar chantagens. Imagine a relação da madrasta com a criança dentro de uma relação movida com esses combustíveis. A criança não tem hora para dormir, decide se quer dormir na estante ou dentro do armário. A criança só vai para a casa do pai SE ele comprar um elefante com corcovas. Se a ex não estiver a fim, não manda a criança e se ele quiser vê-la pode, desde que ao chegar dê três pulinhos em frente ao portão, passe sob o carro que está estacionado na garagem e depois cante uma música sem errar a letra.
Achou os exemplos acima sem sentido? Pois é assim que vive diariamente uma madrasta quando o pai da criança diz que vai colocar a criança para dormir em sua cama porque ele tem medo do escuro e não conhece a casa direito. E quando o pai volta para a casa sem a criança porque a mãe não deixou trazê-la, porque ela está com tosse.
Surgem então as divergências e explico para as madrastas que sim, elas podem e devem palpitar, dizer o que acham que não está adequado, mas quem decide é o pai da criança. O que eu espero é que esse mesmo pai valide dicas de sua nova companheira, pois ele tem o direito de ter vida após a paternidade e ele também manda. Filho não é propriedade da mãe e por existir uma hierarquia óbvia, ele decide onde e quando a criança vai dormir, por exemplo. Por sua vez, a madrasta tem que falar com jeito ao explicar suas ideias ao companheiro. Se gritar, criticar, descabelar, não será ouvida e será simplesmente taxada de ciumenta.
Uma das sequelas da separação é conviver menos com a criança, pois normalmente a guarda é dada à mãe. E não vai dar para compensar os dias, horas, minutos perdidos. O importante é ser um pai presente no período de convivência estipulado, sem alterar a vida de todos. Portanto, a criança pode brincar e passear com o pai durante o dia e dormir às 8:00 da noite, na cama dela, quando estiver na casa do pai. E o pai pode então, tomar seu banho demorado, assistir a um filme ao lado de sua nova esposa, mesmo que seja o final de semana de receber seu filho em sua casa.
A mãe é quem mais tem que se policiar. Será a nova realidade dela dividir a criança com o pai e a madrasta, da mesma maneira que quando ela tiver um namorado o pai terá que agir com boa vontade também. Faz mal para seu próprio filho falar mal de seu pai, afastá-lo dele. Ele pode ter sido o pior marido do mundo, mas é o pai que essa criança tem e ela quer esse pai! Mãe nenhuma tem o direito de falar mal da madrasta e criar um clima infernal. Vamos lembrar que a qualquer momento uma ex-esposa pode tornar-se madrasta e não precisa esperar isso acontecer para se colocar no lugar da nova esposa de seu ex-marido.
E como uma madrasta também pode se tornar uma ex-esposa, vale muito a pena procurar ajuda quando não conseguir enfrentar sozinha os sentimentos malucos que passam pela mente do ser humano ao viver esse papel.
Por isso existe o Fórum das Madrastas. Para acolher pais, enteados, mães e madrastas que vivem essa nova realidade familiar repleta de sentimentos contraditórios. Lá, ninguém se sente sozinho, inseguro ou injustiçado.