terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Eu não sou patriota?

Patriota é aquela pessoa que ama seu país? Que olha para a bandeira e suspira, que se prepara durante dias para escolher seus governantes na hora de uma eleição? Que defende com unhas e dentes as vantagens de morar nesse país tropical? Ultimamente, nada disso me encanta.

Eu tenho, porém um motivo para rever os meus valores. Um filho de 7 anos. Eu quero ser um bom modelo em todos os aspectos de sua educação e não quero passar para ele essa minha imagem negativa sobre patriotismo.

Para chegarmos a uma conclusão sobre gostarmos ou não de alguma coisa, temos que ter parâmetros de comparação. Há 40 anos eu assisto tv, leio livros, acesso a internet, viajo e com esse material sei parte do que acontece em nosso país e em vários outros países.

Há coisas maravilhosas ao redor do mundo, também me assusto com determinadas notícias sobre leis esquisitas, sobre a vida difícil das mulheres e até de hábitos alimentares pra lá de estranhos. E há furacões, tufões, incêndios devastadores, tsunamis.

Dá para chegar então, a conclusão de que nenhum lugar é assim tão perfeito como gostaríamos.

Mas eu sei o que me desanima em meu país a ponto de eu achar que não me importo com ele. É ter essa justiça lenta ou inexistente na maioria das vezes. Normalmente não vemos punição para os bandidos que continuam soltos e matam, roubam mais vezes. Há traficantes de drogas por todos os lados. Bala perdida que mata um pai, uma mãe e ladrões que arrastam uma criança ao roubar um carro.

E a cada dia me deparo com mais injustiças, com falta de aplicação de uma lei. Faz 8 anos que acompanho grupos de pais que lutam para conviver com seus filhos após a separação. Nossa justiça é materna. Até alguns anos atrás, após a separação de um casal, a guarda da criança era automaticamente entregue à mãe. O pai se tornava um provedor finaceiro e nem se esperava muito mais do que isso de seu papel no dia a dia.

Nos dias atuais, o pai quer ser presente na vida de seu filho após a separação, sofre a dor da perda da rotina diária, mas mesmo assim, a guarda integral ainda é dada à mãe.

Existe agora a opção da guarda compartilhada, mas o juiz não a concede se o ex casal não viver em harmonia após a separação. Como compartilharão a guarda se não se entendem? Então a guarda é dada a mãe mais uma vez.

Se vivessem em harmonia, não precisariam de guarda compartilhada, pois a mãe nunca impediria a participação do pai. Ao dar a guarda exclusiva à mãe do mal, ela se vê proprietária da criança e essa arma ela usa contra o ex-cônjuge.

Apesar de isso acontecer em grande escala, de existir mães que somem com seus filhos nos dias de convivência do pai, mães que falam mal do pai para a criança e até aquela que inventa um falso abuso sexual, a guarda ainda é concedida apenas para a mãe.

Se esse pai quiser ter a honra de continuar a ser pai de um filho que ele teve com uma mulher desse tipo, terá que ter um advogado, entrar com liminares, fazer B.O.s e de quebra fazer terapia para manter o equilíbrio durante os meses, os anos de luta para ser pai. E a mãe pode se mudar para onde quiser. Não pode mudar de país sem a autorização do pai, mas pode morar no Chuí, se quiser.

Por que não existe uma quilometragem máxima para o detentor da guarda poder se mudar? Isso é tão óbvio! Ou por que não afastam a criança da mãe também até descobrirem se o abuso sexual é falso ou verdadeiro? Por que não fazem o teste de DNA na maternidade para evitar que a mãe esconda a verdade até de seu próprio filho sobre quem é seu pai?

Aqui explico porque me irrito tanto quando perdem tempo discutindo sobre um projeto de lei para a mudança de um nome de rua, ou algo similar. Que tal se preocuparem com projetos de lei que beneficiem as famílias, as crianças?

Para piorar ainda mais a minha indignação com o assunto paternidade, surge o caso de Sean Goldman, o menino que nasceu nos Estados Unidos e foi trazido pela mãe ao Brasil, sem o consentimento do pai.

Até então eu nunca soube que existia a convenção de Haia e provavelmente a mãe desse menino não sabia também. Mas os advogados e todos os envolvidos nas leis de nosso pais sabiam. Ou seja, as leis do nosso pais existem, são boas, mas não são aplicadas.

E pior ainda foi descobrir que há outras crianças americanas no Brasil nas mesmas condições de Sean Goldman. Ou seja, fugir para o Brasil com o seu filho é uma boa solução para mães ou pais infelizes no casamento.

E pra piorar, David Goldman precisou disputar o filho com uma família de advogados que sempre teve o controle judicial, muita influência. Se o processo não fosse divulgado na internet, pela imprensa, não chegasse ao ponto de prejudicar outros brasileiros que não tinham nada a ver com o assunto, ainda estaria enrolado? Por que precisar disso tudo se o caminho é um só, seguir a lei que já existe?

No Brasil só funciona o que tiver um movimento paralelo particular? Para a saúde, temos o plano de saúde particular, para a educação pagamos escola particular, para a segurança temos o segurança particular nos prédios, casas, na rua.

Os exemplos acima são velhos conhecidos de todos. A novidade agora é que temos que fazer a nossa própria justiça se quisermos que a lei seja aplicada.

São grupos que se unem por uma causa, se fortalecem e conseguem fazer justiça. Os pais que não conseguem conviver com os seus filhos após a separação estão distribuidos no Pailegal, no Participais, na APASE, Pais para sempre, entre outros.

O grupo faz a pressão, conquista o interesse da imprensa que espalha o acontecimento e força a aplicação da lei. Para isso existe um trabalho que pode demorar anos para provar o que é óbvio, mas ninguém vê. A manipulação do detentor da guarda, a alienação parental, a influência da família do mal na política do país que faz mover montanhas para a lei não ser aplicada. E as pessoas falam isso abertamente na tv, fazem passeatas para lutar por uma causa contra a lei! Se vamos infringir a lei, não deveríamos ao menos fazer isso escondido? Onde fica a moral, os bons hábitos, a boa índole, a vergonha?

Não há no Brasil um grupo interessado em devolver as crianças que foram trazidas para cá ilegalmente. Mas existe o Bringseanhome.org que se tornou um grupo de americanos e brasileiros empenhados nesse objetivo, desde a luta para a devolução de Sean Goldman.

No momento, são esses acontecimentos em nosso país que não me deixam ser patriota e amar a nossa camisa.

Só que depois de escrever tantos textos sobre o valor do pai para uma criança, eu descobri que no fundo eu me importo com o meu país, pois me envolvi nesse tema.

Se eu defendo uma causa de mudança em meu país é porque eu o quero bem de alguma maneira. Quando não amamos, não nos importamos. Quem ama cuida, e através do cuidado, da atenção que quero dar para esses pais injustiçados, espero me sentir motivada e passar a valorizar o meu país. E espero que o meu país se esforce para me mostrar que vale a pena eu apostar nele.



Roberta Palermo

Terapeuta Familiar