terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Carta para avó materna de Sean Goldman

Prezada Silvana Bianchi, sou brasileira, tenho 40 anos de idade e trabalho muito também. Ao lado do meu marido crio o meu filho Pedro de 7 anos, ensinando-o que filho não é propriedade da mãe. Aprendi isso com a minha mãe, pois ela nunca me afastou do meu pai após se separar dele quando eu ainda tinha 3 anos. Ela também tinha muitas mágoas de uma relação desgastada.

Meu pai faleceu de câncer há 16 anos atrás. Ele fumou muito ao longo de seus 65 anos e o tumor atingiu laringe, faringe traquéia e cordas vocais. Foi muito triste perdê-lo também, mas tive a grande sorte de conviver com ele ao longo de meus 23 anos. Foi com o meu pai que aprendi a gostar tanto de trabalhar, a ser feliz e ver a felicidade em tudo, mesmo nas horas chatas que aparecem nas nossas vidas. Ele me ensinou a andar de bicicleta, eu brincava de casinha nas prateleiras de papel de sua empresa. Foram muitos finais de semana e ferias divertidas com muito sorvete e chocolate. Quando eu voltava para a casa da minha mãe ela demorava meses para desencardir o meu joelho, desembaraçar os nós do meu cabelo e eu tomava vitamina para recuperar o peso. Para a minha mãe, o mais importante era eu ter um pai presente.

Se eu falecer, certamente quem vai terminar de criar o meu filho é o meu marido, quem eu escolhi para ser pai de meu filho. Escolhi com muito critério, pois não podemos achar depois que o pai não tem condições de criar o nosso filho. Certamente o seu marido foi privilegiado por não ser desvalidado como pai, assim como você faz com todos os pais do Brasil em sua carta ao presidente.

Uma criança de 9 anos não tem maturidade para fazer escolhas na vida. Aos 4 anos ele também não pode escolher ficar com o pai. Ou sua filha o consultou? É tão óbvia a alienação parental realizada em seu neto que fica claro que não será permitido que ele fale o óbvio: que não quer ir embora. Certamente ele falaria o mesmo quando a sua filha o trouxe dos Estados Unidos se lhe perguntassem se ele gostaria de nunca mais ver o papai. Por que agora você acha que opinião dele importante? Porque você é mais importante do que o pai? Você não é.

Você não orientou a sua filha a seguir as leis. A apoiou a abandonar o marido que não a fazia feliz, a ficar no Brasil, pedir o divórcio, a guarda de Sean e após sua morte apoiou o padrasto a ter a guarda provisoria. Tudo sempre pensando só em si. Em ter a sua filha, o seu neto, tudo para você. Enquanto o pai, para você, não tem valor algum para o desenvolvimento de um filho. Avós não estão acima da lei. Avós não têm mais direitos do que o pai e a mãe. Nunca! Você já teve a oportunidade de criar os seus filhos. Agora é a vez desse pai criar o filho dele. Você está invadindo um espaço que não lhe pertence.

Lamento muito que a sua vida seja recheada de perdas, mas não menospreze a perda do pai de seu neto. Você não tem o direito de achar que um pai pode ser excluido dessa maneira da vida de uma criança.



Roberta Palermo

Terapeuta Familiar

www.robertapalermo.com.br