Vamos falar sobre moral, sobre valores e ética? O caso sobre a guarda de menino Sean Goldman não me faz pensar em outra coisa. Até onde devemos ir para apoiar uma filha infeliz no casamento que sai do país levando o filho como se ele fosse só dela? E um filho que dirige embriagado, atropela e mata um ser humano no caminho? Eu sou mãe. Então, para resolver um problema que não causei, eu contrato um advogado renomado para resolver o erro do meu filho ou devo fazê-lo assumir o erro cometido? Onde está o limite entre amar e compactuar com um crime? O que mais me impressiona, é a legião de “sem leis” que acompanham o ideal de uma mãe, de um pai que acha que proteger o filho do que ele fez de errado é cuidar, é amar.
Já assisti na tv uma mãe bem pobre que entregou para a polícia o filho usuário de drogas, pois não aguentava mais vê-lo se “desfazer”, não suportava saber dos roubos que ele fazia na região de sua casa e também cansou de vê-lo levar para vender tudo o que ela tinha em casa para trocar pelas drogas. Isso mostra que devemos ter um limite até onde podemos assumir os erros dos outros. Não podemos compactuar com o que é ilegal, mesmo que o nosso filho, quem tanto amamos, seja o infrator.
Eu ia ter vergonha se o meu filho causasse mal à alguém. Eu ficaria arrasada e seria incapaz de apoiá-lo de maneira ilegal. O Pedro tem 7 anos e vivo hoje para ensiná-lo que nunca devemos pegar o que não é nosso, não devemos mentir para não perder a credibilidade e explico que não passamos no farol vermelho porque podemos nos machucar ou machucar outra pessoa e não por causa da multa. Ele também sabe que não sou perfeita. Ele viu o meu boletim escolar de quando eu repeti de ano e descobriu que as pessoas que amamos também nos frustram, fazem coisas erradas. Com o meu boletim nas mãos ele falou que ia se esforçar muito para ir bem na escola e disse que eu não consegui porque a material era difícil.
Na hora eu disse que não era isso. Exliquei que tudo aconteceu em uma fase que eu não me esforcei, não se dediquei como deveria. E a vovó não desistiu da mamãe, nem resolveu o problema de maneira ilegal. Não pagou para eu passar de ano, nem deixou que eu corresse para o lado mais fácil que poderia ser parar de estudar ou fazer supletivo. Ela falou que eu ia conseguir vencer fazendo o certo. E foi assim que eu terminei o ensino médio e a faculdade.
Os pais não contam para os filhos o que fazem ou fizeram de errado. Querem mostrar que ali existe um modelo perfeito e não percebem que isso sim é frustrante, afinal a criança tem medo, a criança erra e se sente sozinha diante daquele ser tão perfeito. Temos que dizer para os nossos filhos que também temos medo. Pode não ser mais o medo de escuro, pois esse eu já venci, mas eu tenho medo de deixar o vidro do carro aberto e vir um ladrão me assaltar. Eu falo para o Pedro que temos que ter medo do que é real, pois o medo nos protege. Eu não deixo o vidro aberto por medo, portanto a chance de eu ser assaltada até pode diminuir.
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço. Esse é o hábito atual de educação. Os pais precisam entender que o modelo é o que vale e não as palavras. Se não queremos que os filhos contem mentiras, não podemos dizer para que eles falem que “não estamos” quando toca o telefone. É no dia a dia, nas pequena atitudes que educamos. Aquela moedinha de 10 centavos no chão da livraria não é nossa. Vamos levar até o caixa e dizer que alguém perdeu. Fiz isso e a moça do caixa falou que o meu filho poderia ficar com ela. E eu expliquei que não, pois o dono poderia voltar para buscar. E o Pedro tinha 4 anos. Eu também não levei para casa a pazinha amarela que encontramos na praia às 7 horas da manhã.
É dessa maneira que educamos e criamos um filho para ser honesto na vida adulta, para não querer ter vantagem sobre as outras pessoas, para saber assumir uma atitude errada. Estou plantando desde já para que no futuro eu não tenha que passar a vergonha desses pais que aparecem na tv, "justificando o injustificável". Tentando de qualquer maneira encontrar brechas na lei para apoiar um erro.
Eu amo o meu filho de verdade e com a verdade.
Roberta Palermo