terça-feira, 17 de março de 2009

Excuse me, posso ser pai do meu filho?”

Definitivamente eu não consigo entender o que falta ser explicado para que algumas pessoas entendam que não há nada, até o presente momento, que desvalide o pai David Goldman. Sendo assim, não há nada que o impeça de ser pai de seu filho. O que mais me assusta é que há vários “fora da lei” envolvidos nesse apoio à família materna, pois como explicar tamanha falta de juizo? O menino foi trazido ao Brasil sem a permissão do pai, independente da criança ter dupla nacionalidade, ou de ter uma família materna maravilhosa e feliz. E a mãe teve uma atitude inadequada ao afastar seu filho do vínculo sócio-afetivo do pai bem antes do pai querer afastar o filho do tal vínculo sócio-afetivo atual. Então quem começou toda essa confusão? E não venham me dizer que a mãe tinha que sair de lá, afinal a vida sexual dela era ruim e ela era a responsável por sustentar a casa, pois certamente há vários casais nessas condições e nem por isso um ente afasta o outro da criança.

A mãe não atuou de maneira legal, apesar de ao chegar ao Brasil, ter o divórcio e a guarda do filho consentidos. O padrasto é sim alguém muito bom, competente, excelente, mas não justifica ele pedir a guarda sócio-afetiva e nem desvalidar o pai a ponto de querer tirar o sobrenome dele da certidão de nascimento da criança, O pai do menino seguiu a lei. O padrasto desse mesmo menino usa as leis para o seu trabalho, então me surpreendo por ele estranhar e cobrar do pai a participação e presença na vida da criança, sendo que para isso, ele teria que abrir mão de seu direito à paternidade. Ou alguém acha que é possível ser pai morando em outro pais?

Tudo seria perfeito e nada disso estaria acontecendo, se David Goldman não quisesse ser pai, mas para infelicidade desses familiares e sorte desse menino, ele quer de volta o filho que tiraram bruscamente de sua casa. Por um só minuto, coloquem-se no lugar desse pai! Vocês concordariam que, já que o filho de vocês já está bem lá mesmo, vamos deixá-lo lá, ou lutariam para que um golpe desses não obtivesse sucesso? Sei que muitos pais brasileiros, em virtude da morosidade do judiciário, aceitam mesmo as migalhas de convivência que a mãe oferece. Antes isso do que nada. Como David Goldman não aceitou essa condição tão comum ao pai brasileiro, ele é visto agora como o descomprometido que abandonou o filho. Vejam como tudo se inverteu e há vários adeptos à essa opinião.

À partir do momento em que as pessoas apoiam uma passeata para que o menino fique no Brasil, apoiam também a justiça lenta e inadequada que temos no momento. É como validar um orgão de desfesa do consumidor que não defende o consumidor. Acompanho há 7 anos pais que não conseguem conviver com a criança após a separação e ao recorrer às leis, que deveriam ajudá-los, se deparam com mais dificuldades, além das que a mãe coloca. E não pensem que isso não acontece do outro lado, pois uma mãe relatou que, após o pai negar à ela a permissão de viagem do filho de 3 anos para Aspen para passarem as férias juntos, ela recorreu ao juiz e ele não permitiu. Achou supérfluo e desnecessário ela levar um menino de 3 anos para Aspen. Vejam a que ponto chegaram as famílias que vivem em desarmonia e precisam de que uma terceira pessoa, alguém que não tem nada com a sua vida, decida para onde se deve viajar nas férias.

Chego a conclusão de que a igreja católica e seus vários ensinamentos que julgo desatualizados, tem lá sua razão de ser. Por que o divórcio é tão mal visto? Porque causa uma desgraça nas famílias. São tantos atos irresponsáveis uns atrás dos outros e os pais envolvem as crianças em seus desatinos. São adultos que se relacionam sem proteção e engravidam sem o menor comprometimento. Está ai a explicação para a igreja dizer que a relação sexual deve existir apenas após o casamento, mesmo que a gente saiba que isso não é garantia alguma de estabilidade.

Se queremos atualizar o mundo para os dias de hoje, se queremos modernizer antigos conceitos e dogmas, novas regras precisam passar a existir para cobrir as lacunas que aparecem. O problema não é ter relação sexual antes do casamento e sim um casal ter um filho sem um vínculo emocional, sem ter uma vida organizada e depois ir remendando daqui e de lá para adaptar a gravidez à realidade diferente dos dois.

E são os namorados adolescentes que engravidam, tem aquele casal que engravida para tentar salvar o casamento e tem aquele casal que engravida para dar um irmão ao filho mais velho. Aquele casal com diferença cultural, econômica, social e emocional enorme que quer vencer todos os preconceitos e no fim descobre que não é bem assim. E tem o caso de ter que ter uma menina, pois até agora só tiveram 4 meninos. Ou ainda o caso da mãe que aos 50 e poucos anos não foi mãe e quer viver essa emoção. Tem a mulher que tem câncer há 10 anos, mas seu sonho é ser mãe.

Temos que rever esses posicionamentos, pois eles são egoístas demais na maioria das vezes. São casais que colocam a criança no mundo apenas pensando em si e está longe da realidade deles, pensar em qual estrutura familiar essa criança vai viver. Parem de pensar “em que mundo deixarei o meu filho” e pensem sim “em que tipo de estrutura familiar deixarei o meu filho”.

Já que estamos palpitando tanto na vida dos outros, o mínimo que podemos fazer também, é tirar uma lição de vida disso tudo e aceitar que vivemos um momento familiar catastrófico. E volto a dizer que o momento é o de perguntar para nós mesmos que família queremos dar aos nossos filhos. Por mais que o mundo fique moderno, uma coisa é certa: sempre será muito triste para a criança ter os pais separados ou ter a ausência de um desses dois entes.

Existe ex-casal, mas não existe ex-pai, ex-mãe. Ninguém tem o direito de achar que é suficientemente bom para a criança e só o seu amor basta. A criança precisa do pai e da mãe.



Roberta Palermo
Terapeuta Familiar
www.robertapalermo.com.br