sábado, 19 de abril de 2008
A Madrasta foi indiciada
Parece que estamos próximos do fim. Ou estamos próximos do começo? Ao menos será o fim das investigações e o resultado que conclui que a Madrasta realmente participou desse crime tão bárbaro, se ela realmente estiver envolvida. (esse SE ainda me conforta). Nesse momento essa moça trouxe para a realidade o que sempre esteve no imaginário das pessoas: "Madrasta é sempre má, está vendo?" No fundo, as pessoas esperam que a madrasta faça algo errado. É por isso que ao iniciar um relacionamento já ficamos tão na defensiva, precisando aliviar os familiares para que saibam que não temos a intenção de ocupar o lugar da mãe, nem afastar o pai da criança e muito menos machucar a criança. Usamos o termo "pisar em ovos" quando estamos nessa etapa inicial. Se a mãe chamar a atenção da criança está educando, se a madrasta fizer o mesmo, não gosta da criança. Se a mãe aplicar uma sanção quando a criança não segue uma regra ela está educando. Se a madrasta fizer o mesmo, é porque tem ciúme. Quando é que a sociedade deixará de ser tão pequena e passará a perceber que há mais de 60% de famílias reconstituidas, portanto a chance de você ou sua filha, sua prima ser madrasta, é enorme. Infelizmente os casamentos estão durando muito pouco e é comum deixar dois filhos pequenos que serão enteados um dia. Ao invés de rotular as madrastas, vamos acreditar que elas poderão acertar e serem boas para a criança. E a mãe má? Por que essa ninguém vê? Aquela mãe que por ciúme da madrasta afasta o pai da criança? Ela fala mal do pai e some no final de semana que seria de convivência dele. Tem até a mãe que, no auge do desespero em fazer essa separação, acusa o pai de falso abuso sexual. E aquela mãe que mente a paternidade e anos depois o pai descobre que não é pai, através de um exame de DNA? Estou duas vezes em luto. Por essa menina tão covardemente assassinada e por ter uma madrasta envolvida em tamanha atrocidade. Será que se ela participasse do fórum das madrastas pela internet, teríamos evitado essa tragédia? Vejam o que as madrastas sentem quando iniciam essa participação: "Somos pessoas mais sensatas, sabemos ouvir críticas e com isso aprender a ser alguém melhor". "Hoje estou menos radical, mais tolerante". "Eu descobri que eu não era a única com minhas dúvidas, ansiedades, angústias" Tenho muitos relatos como esses e com o fórum EU descobri que não existem madrastas más. Existem madrastas que estão sozinhas e nem sempre sabem agir adequadamente quando os problemas aparecem. E se essa madrasta da tragédia fosse uma integrante de nosso grupo? Eu me sentiria arrasada por não ter mudado esse destino? Não, pois não tenho esse poder. Não interfiro no livre arbítrio. Pra mim o direito humano do cidadão deveria acabar quando acabamos com o direito humano do outro. Me sinto, porém, de alguma maneira, responsável por essa moça. Espero que depois que encerrar o processo, culpada ou não, eu tenha a oportunidade de conversar com ela e saber interpretar o que desencadeou tamanho descontrole. Sentir ciúme é um sentimento comum entre as madrastas. Um sentimento ruim que ninguém quer ter, mas não se controla. Não basta, porém, ter ciúme ou ser madrasta para matar. Quem mata tem má índole ou está doente, entre outras possibilidades. Pra mim, esse resultado triste será o começo. O começo de um esforço ainda maior em divulgar para o mundo a AME Associação das Madrastas e Enteados, pois o nosso fórum é a minha esperança para proteger madrastas e enteados de uma tristeza tão grande como essa. Roberta Palermo