Falta de diálogo dos pais afeta a vida da Madrasta - Roberta Palermo
Está inacreditável o número de madrastas relatando esse mesmo acontecimento. É de conhecimento de todos que o papel da madrasta na vida de uma família é cruel. Ela precisa provar o tempo todo que é boa e que não só está “se fazendo de boazinha” quando faz coisas boas para a criança. Ela está cheia de deveres, mas direitos, nenhum. Na maioria das vezes se preocupa com a alimentação da criança, com os passeios, a higiene, mas não pode dar uma bronca, não pode comparecer à festa de aniversário, nem aos eventos escolares, porque não é bem vinda, não é da família. Há muitas dicas para resolver essas questões práticas. Mas existe um problema sério, bem atual, de difícil solução por causa da falta de diálogo entre os adultos: a manipulação da criança. É comum a criança ser mais fiel à mãe após a separação, independente de morar com ela ou com o pai. O que nós madrastas percebemos é que a criança ou adolescente se aproveita mais, a cada dia, da ausência de diálogo entre seus pais para manipulá-los. São capazes de curtir um final de semana maravilhoso com o pai e a madrasta, mas ao chegar em casa, narram dias de terror durante o final de semana. A mãe acredita. Pega birra da madrasta que não deixa a pobre criança conviver com o pai e acha o ex-marido um traste. Quando a criança percebe a reação de irritação da mãe, bingo. “É mãe, ela se faz de boazinha quando está na frente do meu pai” E a mãe acredita, afinal o que esperamos da atitude de uma madrasta? Que ela tenha ciúme da criança, que ela queira afastar a criança do pai, então o que a criança diz faz todo o sentido. E o preconceito predomina. A criança, muitas vezes, por dó e/ou fidelidade à mãe, fala que foi tudo um horror porque não quer chatear a mãe. Não quer dizer que a madrasta é legal, se divertiram, tiraram muitas fotos. Será inclusive muito bom para a mãe escutar as reclamações e confirmar que ela é muito melhor do que a madrasta, assim não corre o risco de perder o filho. Em algum momento essa mãe pensou em ligar para o ex? Não. E se pensou e falou que ia ligar, a criança ainda diz: “Não faz isso mãe, vai me complicar. Depois o papai briga comigo”. Na verdade, a criança sabe que será desmascarada. O pai dirá que o final de semana foi uma delícia que não aconteceu nada de mais e ficará claro para a mãe que:
1- O filho a manipula.
2- A madrasta é legal, não se faz de legal.
Então, como é melhor não saber nada disso, bom para a mãe é dormir pensando o quanto ela é melhor do que o pai e a madrasta, acreditar no filho é o ideal. Afinal, criança não mente! E o filho manipulador, muitas vezes por questão de sobrevivência, afinal ele precisa garantir o amor da mãe, mantém esse esquema. Isso não significa que a criança tenha má índole. Ela apenas está abandonada. Ela é reflexo da educação que recebe do pai e da mãe. Por mais que o enteado não tenha nada contra a madrasta, não vai validá-la. Enquanto isso está lá a madrasta fazendo de tudo para agradar e descobrindo o quanto é “usada”. E deve continuar a fazer, pois a parte dela, ela faz bem feita. Desde que o marido/namorado demonstre o quanto é grato por essa participação, ajuda positiva, tudo bem. Só que a madrasta não pode esperar reconhecimento e nem sentir-se usada. Esperar que a criança dê valor aos benefícios que ela oferece é cruel. Inclusive a criança não diz que foi a madrasta: “O papai teve uma grande idéia! Me levou para tomar sorvete e depois fomos à farmácia comprar sabonete”. “A vovó...o vovô...a vizinha...” Mas a madrasta? Nada! “Sabia! Não faz nada pelo meu filho. Só pensa no dela”. Passa pela cabeça da mãe que a madrasta fez muitas coisas que a criança não contou até para protegê-la? Então mães e pais, sinto avisar que vocês estão rodeados de filhos que os manipulam. Enquanto isso vocês desprezam a madrasta/padrasto de seus filhos, sem saber que na verdade, eles são muito bons. Não são eles os causadores de toda a infelicidade do mundo e muito menos a infelicidade de seus filhos. Quem causa isso é a falta de comunicação que está em todas as casas.